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2014
A Evangelina dos Pobres, texto de Antônio Gilvandro
Não posso deixar de me referir a essa extraordinária mulher que, nascida ontem, é uma figura que se atualiza, pelo seu contínuo valor. É ela: EVANGELINA MAGALHÃES BRASIL, carinhosamente conhecida por DONA FIFI!
Paramirim foi seu berço natal, onde ela veio à fazenda São João. Ainda jovem, rumou-se para Caetité, onde cursou a Escola Normal, galgando o honroso mister de professora. Voltou à nossa terra, em 1940, empenhando o diploma de mestra, sendo nomeada para ensinar na comunidade vizinha do Pajeú. Casou-se, em 1941, e ficou residindo e ensinando neste Município, até 1947, quando mudou-se para Água Quente (hoje Érico Cardoso), prosseguindo o seu ministério educacional, alfabetizando, fazendo que o jovem fosse mais autônomo, solidário e participativo, ela foi uma das ilustres protagonistas da cidadania aguaquentense. Seu trabalho, em prol da educação, consistiu, especialmente, em plasmar caráteres, não se atendo ao ensino de “ler, escrever e fazer contas”, vez que esse estilo nada mais seria que um resíduo fóssil da sociedade medieval. Foi além! Fez os seus discípulos enxergar “além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte”, como proclamava José de Alencar, em seu livro Iracema. Fê-los projetar-se em todos os setores da vida humana, principalmente, quando a 1ª Diretora do Ginásio de Água Quente, onde ela, com esmero, dedicação e pertinácia, transformou a base daquele educandário na solidez da rocha.
Todavia, não foi Dona Fifi apenasmente uma mestra do abc e das letras! Sua missão ilimitada não poderia restringir-se somente a esse aspecto da sociedade humana. Ela foi, acima de tudo, a Mestra do amor. Seu coração oceânico não se limitou às grossas paredes do casarão do Coronel Liberato! Extravasou-se pelas comunidades, onde ela se distinguia pela vida solidária com os pobres e necessitados. “Amou, sem economias”, como bem afirmou Gabriel Charlita. Não se encontrou maquiagem em suas ações. Ela escutou tantos gritos de socorro escondidos em amarguras. Ela ouviu o vagido de crianças órfãs, de meninas de rua, daqueles que a sociedade insensível deixava à mercê da sorte. Não foi mãe biológica, mas gerou vários filhos de alguém ou de ninguém pelo seu coração. Mesa farta, sem mesquinharias, ela acolhia a quantos se dirigiam àquela casa-grande com tantas histórias! Seu espírito altruísta fazia seus braços alongarem-se para, num grande amplexo, trazer todos a seu coração. Sem sombra de dúvidas, é uma mulher santa, que já começou a operar seus milagres aqui na terra, ao salvar da morte tantos que eram consumidos pela miséria e pela fome. É uma santa moderna, aos moldes de Irmã Dulce ou Madre Tereza de Calcutá, não se reduzindo a um mero assistencialismo, porém, vivendo aquilo que ensinava o insignes sociólogo Francês Joseph Lebret : “ o que conta para nós é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até se chegar à humanidade inteira”. É uma santa que, agora, passou a compor a constelação das pessoas célebres, cintilando na escuridade deste mundo, que se animaliza, como uma das estrelas de primeira grandeza deste sertão adusto. É uma santa que entrou no Panteão dos heróis, por ter usado, em toda sua vida nonagenária, a arma mais poderosa que o mundo: O AMOR. Ela viveu o amor, transpirou amor, pregou amor, suou amor, fez nascer todo dia o amor. “ O homem não pode viver sem amor”, di-lo com maestria o Papa João Paulo II, em sua encíclica Redemptor Hominis. Ela o viveu intensamente, até mesmo no sofrimento de seus últimos dias terrenos. Era santa, sem pieguice alienada, até porque o foi austera. Mesmo nos seus últimos dias na terra, ela desafiou o sofrimento com denodo e altivez. Muito elegante, com aquele caminhado bailando de um lado para o outro, que parecia uma natural saudação a todos que se lhe viam, ela educou pelo exemplo, pela postura, pela simpatia, pela beleza colonial, de uma mulher que dificilmente irá repetir-se. Sem alarde, ela partiu! E isto aconteceu ainda na semana, onde o mundo celebrava o Dia Internacional da Mulher.
Tive a felicidade de ser seu amigo e tivemos vários colóquios, sentindo-me enriquecido pela afetividade e exemplos heroicos que sempre me encantaram e prosseguem encantando-me.
Tive a feliz oportunidade de ver, de perto, uma SANTA que foi e é minha amiga. Por isso, tenho convicção ao considera-la assim. Madre Tereza de Calcutá definiu que “ Santidade é fazer a vontade de Deus com alegria. Santidade é fazer a vontade de Deus com alegria. Santidade não é fuga do mundo, mas transformação deste mundo”.
Resta-me, pois, minha velha amiga e minha Mestra da Caridade, curvar-me diante de seu excelso vulto, em veneração e agradecimento.
“Em tudo dai graças a Deus” (1 Tess. 5,18).
Nele agradecemo-lhe por ter sido a MATER ET MAGISTRA a mãe e mestra de todos os pobres.
DEUS LHE PAGUE!
Não sei se unanimemente todos se lembram de seus gestos de bondade. Repetindo Madre Tereza de Calcutá, ela advertia: “O bem que você faz hoje muitas vezes é esquecido pelas pessoas, amanhã. Faça-o assim mesmo! Continue!”
Antônio Gilvandro Martins Neves
Secretário de Cultura
Advogado
Paramirim-Bahia
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus “