29
2014
O Mandacaru e o pé de São João
– Meu amigo, mandacaru, a chuva nos devolveu a vida, sofremos longo tempo desprovidos de folhas e flores.
– Alto lá, meu caro São João, não tenho folhas, sempre estou verde, sou o verdadeiro rei do Sertão.
– Mentido! Um rei que carrega uma coroa de espinhos. Minha coroa é de flores amarelas, veja como estou lindo.
– Jesus carregou na cabeça uma coroa de espinhos, só fez aumentar a sua importância e a sua grandeza. Sou rei porque sou forte, vigoroso e destemido. Enquanto todos hibernam, coloco-me de olhos abertos, não fujo a seca, nem ao vento e ao sol.
– Mas também: um ser que não dá sombra nem encosto, qual a serventia mesmo?
– Minhas flores são adocicadas do mais puro néctar, meus frutos são disputados pelos pássaros, de meu caule salvo bichos e pessoas da morte por sede. Sou rei, não já lhe falei! Ninguém é rei por acaso. Mas não fique triste não, mesmo você não sendo rei, pois rei só existe um, sua beleza me dá mais beleza ainda. O que seria desta fotografia na falta das suas belas flores amarelas? Quantas abelhas a lhe visitar.
– Não estou triste, logo agora que me vejo verde e bonito, quero mais é ostentar minhas qualidades, pois breve voltará a estiagem e eu me perderei no sono.
– Vamos cantar, São João? Mandacaru quando flora lá na seca, é o sinal que a chuva chega no Sertão.
– Até música o danado tem. É um legítimo rei mesmo.