Cristo / Francisco

CristoCristo chama-se Francisco. A gente sabe da história dele porque o mesmo veio de Macaúbas e passou a morar aqui com uma velha de nome Jovita. Essa senhora tinha uma casa de acolhimento, as pessoas doentes, as mulheres para ganhar nenê vinham se hospedar, essa casa ficava defronte a casa de Dizinha, onde hoje é a casa de Dodó de Tõe de Zuza, era um casarão comprido e grande. Morava Cristo e uma velha de nome Antônia. Lá Cristo era uma pessoa serviçal, era quem carregava as feiras, desarmava todas as barracas da feira e trazia no ombro os feixes das madeiras que usavam para sustentar as barracas e também ajudava João Queridão nas matanças de bois e servia muito para dar recados, porém tinha uma fala tremula e de difícil compreensão. Eu tenho um ponto de referência dele quanto a sua idade, quando eu conversava com ele perguntava sobre o primeiro médico de Paramirim, o Dr. Bernardino de Souza Leão, pois dizem os antigos que Bernardino vinha para feira onde ele tinha um consultório, hoje o local é a casa de Angélica Leão. Ele descia e amarrava o cavalo na porta de Jovita, então eu em conversa indaguei a Cristo se ele conheceu Dr. Bernardino e ele me disse que lembrava demais, que conheceu, que conheceu. Ele dizia que Bernardino era gordinho parecendo com Dr. Aurélio. Dr. Bernardino morreu em 27 de janeiro de 1904, tem então 106 anos da sua morte. Se ele se lembra do médico que morreu em 1904, no mínimo ele tinha naquele tempo 10 anos, com os 106 que transcorreu ele com certeza tem hoje mais de 116 anos. Há uma particularidade física, fisiológica, que desafia a ciência, primeiro, ele não bebe água, é avesso a água, não bebe um copo d’água. Então quando a ciência manda que tomemos dois litros de água por dia para um bom funcionamento renal ele simplesmente ignora e não tem problema nenhum dessa espécie. Ele só bebe café, e outra coisa, ele fuma cigarro daqueles fumos mais grossos, mais rústico, o fumo de rolo. Ele não tem problema de enfisema pulmonar e não teve problema com câncer, também gostava de tomar cachaça. É um desafio a ciência, poderia fazer um estudo, pois uma pessoa que não bebe água, que fuma demais e não enfrenta nenhum problema agonizado que a gente padece nos dias de hoje. Há pessoas, fumantes passivos, que pegam doenças apenas com a inalação da fumaça de cigaros fumados por outras pessoas. Depois que as velhas morreram, ele foi acolhido por uma família, a família de Bela Viana e aí ele mora em um quartinho e está enfrentando os desafios da vida. O nome dele Francisco talvez venha de Cristo, ao ser batizado alguém deduziu que Cristo vinha de Francisco. Ele tinha um apelido de Barrão. Andava tremendo e possuía os pés meio para dentro. Ele é uma figura característica do nosso município, às vezes, temos uma visão de cultura errônea achando que os vultos importantes do município são aqueles que destacam pelo poder, pelo dinheiro. Eu acredito que toda a sustentabilidade dos municípios esteja nessas pessoas humildes. Um americano (Thomas Metros) famoso dizia: “São os valores escondidos”.  Os valores escondidos é o que sustenta, o alicerce é que sustenta a construção, e ele fica escondido.

Texto retirado do vídeo em que Antônio Gilvando Martins fala sobre Cristo.

Estive na residência que Cristo mora na manhã do dia 11/03/2010 com o amigo Tulinha onde colhi essa singela imagem.

Sugestão de Matéria: Antônio Luiz Tanajura.

Luiz Carlos Marques Cardoso (Bill) 27/03/2010





                                                                                                     Página Inicial