out
15
2016

Fazendo valer o voto – História de Sertanejo

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Fazendo Valer o Voto

Outro dia desses um rapaz veio, até a mim, procurar conversa. Sou da roça, do Sertão da Bahia, gente simples, contudo de grande sabedoria, esta conquistada na minha longa jornada pela vida. Ele logo me acusou que eu tinha vendido meu voto. Estranhei a acusação. Vendi meu voto? Que eu me lembre bem, nunca vendi voto algum. Sempre voto nos amigos, isso não escondo de ninguém. Pra que esconder? Se não for amigo meu, voto não tem em minha casa, não. Vou votar em estranho? Voto não. Sou louco! Só voto em amigo. Nesta eleição, o amigo meu, amigo do peito, amigo de todas as horas, já passou aqui em minha humilde residência para tomar um cafezinho e jogar um pouco de conversa fora. Recebi sua pessoa com muito respeito. Amigo que é amigo quando nos visita traz um presentinho. Ele me deu um fogão novinho, o meu estava velho, já tinha quatro anos de uso, presente dele no outro pleito. Minha mulher recebeu um bonito vestido. Minha filha, santa moça, irá se casar no próximo sábado, deu a ela a banda para a festa de casamento. Um amigo desse a gente tem que preservar. Cinco votos aqui em casa, todos dele. Quando o telhado aqui precisa de reparo, quem me ajuda? O amigo. Quando preciso ir ao médico, quem me serve? O amigo. Eu nunca na vida pensei em ter um amigo assim. Para falar a verdade, nem meu pai era assim comigo. Outro dia desses, o candidato da outra chapa veio à minha humilde residência. Recebo todos bem. Ele me pediu os votos. Disse que arranjaria um. O guloso achou pouco, queria tudo. Desconversei. Ele tomou café, comeu bolo e foi embora. Sequer deixou um quilo de sal como presente. Vou deixar meu velho amigo para me lascar encostando-se a mandacaru espinhento? Sou da roça mais não sou besta. O amigo voltou a jogar em minha cara que vender o voto é crime. Eu não tenho loja para vender nada. Vou repetir: só voto em amigo. Se for meu amigo, receberá meu voto, se não for, vá procurar outro para encher o saco. Disse também que eu tenho que votar com consciência. Não entendi muito bem o que ele quis dizer. Será que ele pensa que eu tiro o cérebro para votar? Acho que aquele cabra é contra meu amigo. Quer que o partido dele ganhe para ficar na carne seca com farinha. Oh bicho danado! Depois que passa a eleição, todos somem, desaparecem. Eu só tenho a recorrer aos amigos. Não adianta, juiz pode me pressionar, a polícia pode tentar me coagir, mas se não for meu amigo, prefiro votar em branco. Para finalizar esta conversa, preciso providenciar os preparativos para a festança do casamento da minha filha. O amigo foi o primeiro a ser convidado. Amigo bom a gente nunca se esquece.

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