dez
25
2016

O distinto Homem do campo e sua lida

* Por Irlando Oliveira

Fomos instados a elaborar o presente texto, atendendo a pedido do nosso amigo do Facebook, Beto Barraca, envolvido com a comunidade dos lavradores de Livramento de Nossa Senhora. E como bom Soldado que somos, nos propomos a tecer algumas considerações sobre o tema proposto, pois “missão dada, é missão cumprida”, usando o nosso jargão militar! Assim, através do nosso Projeto Ações Preventivas nas Escolas e Comunidades (PROAPEC), temos nos permitido a inúmeras palestras na zona rural. Nessas localidades bucólicas temos nos encantado com a nobreza dessa gente, que na maioria das vezes extrai o seu próprio sustento da terra – atualmente tão castigada pelo longo período de estiagem -, com garra, força e determinação. Bem o sabemos, pois a nossa origem é daqui do sudoeste baiano, e pudemos acompanhar a lida desse povo, que acorda muitas das vezes ainda sem o alvorecer e dorme cedo demais, ante o cansaço do dia. Suporta o calor do sol abrasador, que deixa suas inconfundíveis marcas na pele, concorrendo para enrrugá-la, terminando por marcar a senilidade precocemente.

Quando passávamos as nossas férias na Fazenda São João, da nossa saudosa avó, localizada entre Paramirim e Caturama, podíamos ver a luta incessante do trabalhador rural, através do desempenho da sua atividade diária, regando a plantação, cortando capim, semeando, colhendo, passando herbicida no pasto, fazendo ou reparando cerca, tirando leite da vaca, podando plantas, enfim. Tanta labuta, sempre objetivando o sustento ante a tarefa executada ou, para aqueles que eram contratados, a parca diária pra fazer frente à feira da semana. Gente humilde que, apesar da pouca instrução que caracteriza a grande maioria, sabe se comportar com elegância, finura e educação, superando, e muito, aqueles que são portadores dos diplomas da vida!

As palestras que fizemos eram permeadas pelo silêncio absoluto! Afinal, eu ali estava a falar para aquela gente! O Major da PM! O Comandante da 46ª CIPM de Livramento! Uma autoridade! Víamos um respeito sem precedentes, pois nos ouviam com imensa atenção, sorvendo cada palavra nossa! Após a palestra, percebíamos que muitos vinham a nós expressar a sua gratidão, pelo fato de ali nos encontrarmos e podermos dispensar a todos eles a nossa atenção. Sempre solícitos, nunca nos faltou um cafezinho com bolos, biscoitos, chimangos e tantas guloseimas características da região! Vale dizer, melhor que muitos coffee break oferecidos na cidade! Confesso-lhes que voltava pra casa tomado de alegria, ante a mostra de tamanho gesto de humildade e educação, considerando o fato – acredito – dos hábitos e costumes daquele povo, aliado à orientação e princípios familiares.

Numa ocasião, fomos surpreendidos com um gesto que dificilmente vemos na cidade: um jovem de aparência de uns 22 anos, da comunidade quilombola da Rocinha, em Livramento, passou por entre os espectadores, antes da palestra, e pediu bênção a sua Tia. Pensamos, naquela ocasião, que são esses princípios morais que faltam na atualidade, os quais certamente favorecem a educação, tão “balançada” e às vezes tão decadente nas cidades, principalmente. Assim, que possamos nos inspirar na forma simples, elegante, lhana e educada de ser do Homem do campo, o qual, apesar dos avanços da ciência e da tecnologia, visíveis também na zona rural, através da utilização da Internet, Facebook, Messenger, WhatsApp, Wi-fi, etc, não mudaram a sua forma de ser, mantendo-se na mesma linha de outrora!

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* Irlando Lino Magalhães Oliveira é Oficial da Polícia Militar da Bahia, no posto de Major do QOPM, atual Comandante da 46ª CIPM/Livramento de Nossa Senhora, e Especialista em Gestão da Segurança Pública e Direitos Humanos.

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